quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Montanha Jovem

Escrever não foi fácil para mim, na infância tremia ao escutar os berros do meu pai, que exigia que minha grafia fosse como a perfeição da sua. Depois disso nunca mais tive uma letra fixa, traço que sempre se modificou comigo.  Eletrônica atualmente, as linhas com as quais discorro a chegada a um destino são insuficientes para dizer como Machu Picchu deixou de ser uma imaginação minha, para se tornar uma grande descoberta: a de que posso chegar onde bem quiser, inclusive, em locais que carro nenhum me levaria. Naquele setembro de sonhos e lembranças agradáveis, a cidade perdida dos Incas caiu como uma verdadeira recompensa, donde pude extrair algo muito mais valioso do que ouro. Desde Aguas Caliententes subimos caminhando em meio a trilha que atravessa a estrada por onde percorrem os “micros” lotados de turistas. Fui o primeiro a chegar à entrada do santuário e fiquei esperando alguns minutos o restante do grupo: um guia cusqueño, um japonês e três paulistas.  A primeira informação que tive, foi a de que em 1911, Hiran Binghan, o arqueólogo norte-americano, apenas havia redescoberto as ruínas, de maneira destoante da versão difundida mundialmente pela história. Em meados do século XIX o local já era visitado por pesquisadores e muitos nativos tinham conhecimento de sua localização geográfica.  Gosto muito de escutar essas anedotas, que desconstroem versões originais, quase sempre contatas por um norte-americano sempre cheio de boas intenções ao encontrar algo valioso, desses que enquanto puder ser dono de uma descoberta, o Pai, quererá ser. Considerações à parte, a “Ciudad Perdida” permanece como isso que restou,  um conjunto arquitetônico revelado ao mundo em sua imponência, mimetização viva de como viviam alguns dos cidadãos de uma civilização destroçada pela  fúria ganaciosa do espanhóis. Muitas teorias históricas tentam ilustrar o que foi ou representou a cidadela para o Tahuantinsuyo. Há pesquisas que indicam que o local era um santuário religioso habitado por virgens; outras hipóteses apontam para um local que era destinado a ser a casa de campo do antigo imperador Pachacutec, que fugia do inverno rigoroso em Cusco, também comentam sobre a possibilidade de ser um palácio Real, ou, um mausoléu. Enfim, pouco disso importou quando caminhei por suas ruelas e “escaleras”, muito menos os paspalhos que com suas mãos adiante tentavam buscar alguma energia mística do cosmos. Senti esse ímpeto de subir, de chegar ao alto, ignorei totalmente a montanha que da nome ao sítio (velha montanha = Machu Pikchu em quéchua) e fui guiado solitariamente pelo desejo de chegar ao topo do Huayna Picchu, a jovem montanha, com formato simétrico de um rosto esculpido em meio à cordilheira. Sim, chegar ao topo da montanha jovem, ao ponto mais alto de minha juventude. Simbolicamente adulto.

Um comentário:

  1. Fantástico! Reproduzi sua foto num texto e poema de Pablo Neruda no Blog Filosomídia: http://filosomidia.blogspot.com/2011/12/sube-nacer-conmigo-hermano.html

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